quarta-feira, 25 de junho de 2008

TODOS OS NAUFRÁGIOS DO MUNDO, edições ponto & vírgula, 1992

(Do jeito bonito como as coisas andam nesse nosso amado Mindelo é primordial o perfume deste poema. Aceitamos novas releituras desse Mindelo bonito. t)

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Tudo é bonito
eu sou bonito
tu és ainda mais bonita,
a Praça Nova é bonita
fumar marijuana é bonito,
as putas adolescentes vendendo carne
nos becos do Mindelo são bonitas,
a piça dos tubarões urbanos nos sábados
de euforia nas discotecas da futilidade
também é bonita,
Rua de Canecadinha cheia de bêbados naufragados
na puta da vida também é bonita,
o palácio do Povo onde até hoje
nenhum vagabundo dormiu é bonito,
Jorge Rocha encalhado no Porto Grande
onde os meninos sem lar vão-se sodomizar é bonito,
Ti Goi era bonito, Cesária mora
na degradação mas os locais onde ela canta
são bonitos
as senhoras com perfumes de Paris
tais jardins de bacatelas,
são bonitas,
Bela Vista tem lixeira
mas é bonita,
Ribeira Bote tem deliquência
e é bonito,
São Vicente é bonito
os padres são bonitos,
Centro Redentor é bonito
Deus é bonito,
A vida aqui é bonita,
a Moral do Homem é bonita
por todos os séculos e séculos bonitos,
a consciência dos «chuis» é bonita,
a família é bonita,
«Bonita» é bonito,
o Povo é bonito,
as leis são bonitas
somos bonitos,
tudo é bonito,
a pornografia é bonita,
o dinheiro é bonito,
os políticos são bonitos, e com
eles a política, que se torna bonita,
Q’mê Deu sé bonito,
Queizim com a sua santa merda
é bonito,
Cemitério é bonito, o mais belo,
bonito para o descanso eterno,
que deve ser mais bonito que as bonitas
coisas que citei neste longo
e belo poema.


TCHALÉ FIGUEIRA

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Um povo estranho…

(Notas soltas sobre o documentário "Some Kind of Funny Porto Rican?", da cabo-verdiana Claire Andrade Watkins, que deve estrear a 5 de Julho, na Praia, e dois dias depois no Mindelo. M)


1. “Some Kind of Funny Porto Rican?”, documentário de Claire Andrade-Watkins, é o primeiro grande filme sobre a emigração cabo-verdiana para a América. O destino secular de berdianos empurrados para uma América que lhes sorria oportunidades mil. Em solo estranho, agregam-se em comunidade e reconstroem suas vidas em Fox Point, na zona da Grande Inglaterra. Quando a comunidade chega à terceira geração de emigrantes, é forçada a abandonar as suas casas em Fox Point para dar passagem a uma rodovia. O documentário de Claire aborda, de forma contundente, esse processo doloroso que destrói laços, não fosse o cabo-verdiano o povo com maior sentido de pertença que eu conheço. .... LEIA MAIS

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Briu!

Olá meninos, o blog que ora introduzimos é uma janela para ventilar um problema maior que está a açoitar a nossa amada pátria: a falta de briu desse povo – forsa d’ vontad ta canhambra, nhas gent! São muitos os açoites e as desgraças que há muito nos penetraram, não obstante os zeros que enfeitam os números dos negócios deste país. Apesar dos alertas, dormimos o sono dos anjos embalados na melodia poética da basofaria. É preciso rasgar este véu inebriante, coisa a que ninguém se atreve nesta terra, e é compreensível. Seria uma ressaca terrível! Quando muito, não passam de apalpadelas inocentes.

Não querendo dar uma de bazofos, mas dando tudo até ao fundo da questão, que fique registado que somos os pioneiros no acto de desvirginar o problema de briu. Traduzindo: no finkal na kes três vinten! Ui, oh sabe! Mas antes de penetrar com tudo, pondo só a cabecinha, vamos lá esclarecer uma coisa. O problema tem duas cabeças: a falta de briu e/ou passividade endémica versus excesso de briu vulgo vissarada na corpe. Antes de ir mesmo a fundo no imbróglio, gostávamos de nos situar na república da banana. Descascando até metade, temos o País Doce Maravilhas (PDM) mergulhado no complexo do narciso; da metade para baixo, o País Doador de Merda (PDM) onde se nada afrontado em bosta, chiça!