quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Terra de Quem?!

O cabo-verdiano elegeu a Morabeza como sendo a pintura mais perfeita e realista do seu país. Escolhemos essa palavra como cartão de visita e vendemo-la ao exterior. Concordando ou não, é esse o enquadramento escolhido e emoldurado por aqueles que negociam a nossa imagem. Mesmo tratando de forma discriminatória os senegaleses, guineenses, e outros oriundos de vários países da África, consideramo-nos um povo hospitaleiro e simpático porque estendemos o tapete vermelho e sorrimos aos que vêem de continentes mais distantes do NOSSO.

Faço este caminho para falar de identidade, daquilo que nos caracteriza e obviamente nos distingue dos demais. E nessa sede de afirmação, por vezes, aparecem em negrito traços e estereótipos que estão longe de resumir a alma do nosso povo. À nossa ilha, por exemplo, foram-lha atribuídas algumas faces que já não passam de velhas fantasias de Carnaval e de lendas inventadas por aqueles que querem São Nicolau mergulhada no sono do passado sem acordar para o futuro. Os mais modestos rimavam São Nicolau com farinha de pau. A bendita farinha caiu no esquecimento e deixou aos pintores de identidade a ingrata missão de desenharem uma nova ilha.

O seminário liceu da Vila de Ribeira Brava escreveu uma página imprescindível na história de Cabo Verde e assumiu como sendo o rosto, o corpo e a alma desta ilha. Em 1917 o seminário liceu fechava as suas portas e condenava a ilha a uma nudez de rosto, corpo e alma.

O seminário, mesmo com as portas fechadas, só conseguiu ser abafado pela sombra de um rapaz chamado Chiquinho que nasceu no Caleijão e cresceu tanto que já não cabia na sua própria ilha. Hoje somos conhecidos pela ilha de Chiquinho, personagem criado pelo maior nome da literatura cabo-verdiana - Baltazar Lopes da Silva. Este, assim como Chiquinho, ficou um gigante inadaptado à sua própria ilha e afastou-se dela. Depois da morte, foi condenado pelos sanicolauenses a manter-se eternamente de pé e imóvel na praça de correios.

É injusto esta terra ser apenas de Chiquinho. São Nicolau é a ilha dos que daqui são e aqui estão. É do pescador que vence todos os dias o mar, é do agricultor que rega o chão com o seu suor e é do rapazinho que de manhã é estudante e à tarde é pastor. São Nicolau é “NOSSA NÔSS TUD”, não é de fulano nem de sicrano.

Nuno de Pina

1 Comentários:

Blogger Caboverdiano disse...

Parabéns.A minha familia materna é originária de S.Nicolau. Agradeço por teres partilhado o teu pensamento connosco. Força. Aquele abraço caboverdiano!

13 de fevereiro de 2009 às 01:25  

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